Síntese da discussão
Por Paulo R. R. Soares
A
mesa discutiu como os megaeventos se tornaram um eixo central nas
políticas urbanas, especialmente nas políticas de desenvolvimento
urbano, bem como os impactos sobre as populações menos favorecidas
nas cidades.
As
obras de infraestrutura necessárias para o desenvolvimento do
megaevento, especialmente o esportivo, se tornaram importantes
ferramentas de alavancagem de atividades econômicas e do
planejamento urbano nas cidades que recebem tais eventos. Ativando
circuitos econômicos e gerando oportunidades de negócios, além da
inserção da cidade em um circuito de turismo e negócios globais.
Os
megaeventos se configuram excelente como oportunidade para o city
marketing,
atraindo olhares e negócios para a cidade-sede.
Entretanto,
uma vez que os megaeventos envolvem a concertação entre o setor
público, seja federal, estadual ou municipal, e entidades
internacionais de direito privado – FIFA e COI, esta relação nem
sempre se estabelece em condições de igualdade.
Com
a globalização econômica e cultural e a homogeneização dos
estilos de vida, todos os países e cidades inseridos na economia
capitalista global se interessam pela acolhida dos megaeventos. O que
instaura uma concorrência entre governos e cidades, num contexto de
“guerra de lugares” para sediar tais eventos.
Evidentemente
que neste contexto de concorrência global as cidades e/ou países
que oferecerem melhores vantagens e infraestruturas para o evento
serão as escolhidas, com o que a posição das entidades
patrocinadoras se coloca por demais vantajosa.
Raúl Zibechi. Foto: Ronaldo Torre |
Assim, os cadernos de encargos e matrizes de responsabilidades se tornam compromissos importantes assumidos pelos governos locais para a realização dos jogos os quais estão em constante ameaça de “retirada” do privilegio de ser sede caso os mesmos não sejam cumpridos.
Como
entidades de direito privado, as organizadoras e detentoras dos
direitos sobre os megaeventos esportivos realizam suas parcerias com
poderosas corporações econômicas globais (patrocinadoras),
criando um pacote tecnológico e mercadológico para a realização
dos eventos o que muitas vezes exclui as pequenas e medias empresas
da economia local dos principais negócios.
As
patrocinadores impõem suas regras em termos de produtos,
fornecedores e formas de atuação na construção de
infraestruturas. O caso do Estádio Beira-Rio em Porto Alegre é
ilustrativo, onde o clube proprietário após a tentativa de realizar
um caminho alternativo teve que se submeter ao modelo padrão de
financiamento e de construção das obras do estádio.
As
localizações das instalações esportivas nem sempre obedecem aos
planejamento urbano previamente realizado demandando o megaevento uma
reestruturação urbana, nem sempre prevista nos master
plans,
planos diretores de desenvolvimento urbano locais. O ideal seria que
os megaeventos se submetessem ao previamente planejado em médio e
longo prazo na cidade.
Em
muitas cidades os megaeventos, em termos urbano-espaciais tem função
“colonizadora,” isto é, localizam-se em áreas pouco exploradas
pela indústria imobiliária na cidade, abrindo uma nova frente de
valorização do espaço.
Christopher Thomas Gaffney. Foto: Ronaldo Torre |
Em
países emergentes estas novas frentes muitas vezes entram em choque
com comunidades e populações tradicionais que ocupavam
informalmente o espaço há muitos anos, as vezes décadas.
As
obras de infraestruturas para os megaeventos acabam por desarticular
os territórios locais destas comunidades em termos de modo de vida,
economia popular e vínculos espaciais construídos com a cidade.
As
remoções - eufemisticamente chamadas de deslocamentos involuntários
- são realizadas para locais distantes, desagregando os vínculos
afetivos e econômicos, provocando novos problemas sociais em
comunidades já vulneráveis social e economicamente.
É
preciso repensar estas políticas com mais participação e mais
discussão. Os megaeventos precisam respeitar os ritmos e os modos de
vida locais.
A
urgência dos megaeventos, os prazos apertados, e os encargos e
responsabilidades assumidos deixam pouca margem de manobra para a
negociação e a participação. Os governos locais não podem se
utilizar destes artifícios como álibi para impor as suas soluções.
Raúl Zibechi, Arlete M. Rodrigues, Christopher Thomas Gaffney e Paulo R. R. Soares. Foto: Ronaldo Torre |
Os
megaeventos não podem ser desculpa para a securitização da
política urbana, bem como para a criminalização de movimentos
sociais e da economia informal.
Não
é possível que se instaure um Estado de exceção legal durante o
megaevento. A cidadania tem que ser preservada.
O
acesso ao legado dos megaeventos deve ser para todos, as obras não
podem servir apenas para a geração de plus valias urbanas para o
capital imobiliário.
Enfim,
a mesa conclui da necessidade de mais participação popular nas
decisões e um maior acompanhamento da sociedade civil dos
megaeventos, se possível com a formação de conselhos cidadãos com
ampla representação de todas as sensibilidades presentes na cidade
e, especialmente, das populações mais vulneráveis impactadas pelas
obras e pelas atividades durante a realização dos megaeventos
esportivos.
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